Somos todos aviadores


     Todos nós que habitamos o privilegiado aconchego do vôo estamos acostumados a ouvir: - "voar é perigoso"... - "voar é para passarinho"... - "se o homem nascesse para voar, teria asas"... E por aí vai...

     Sabemos que o assunto é discutível e inesgotável. E dele se fala muito. Não só pela ótica de alguns, como a do perigo, como pela indescritível sensação de voar e sua inusitada beleza, ótica de outros.

     Vôo há 39 (trinta e nove) anos como piloto e como passageiro - nos mais diferentes equipamentos e formas mais variadas, o que me faz ficar bem à vontade para falar sobre isto.

     A constante que existe entre voar por lazer, comercialmente ou militarmente é que estamos acostumados ao amparo terrestre. Quando voamos sentimos falta desse amparo; que gera uma espécie de ansiedade que alguns chamam de medo: - sentimento de grande inquietação ante a noção de um perigo real, ou imaginário. Quando esse sentimento é possível ser controlado - voar fica mais fácil.

     Conta-se que um grande cantor de música popular brasileira, conhecidamente como machão, em suas entrevistas não cansa de dizer que só entra em avião depois de tomar todas. Evidentemente não é este tipo de controle que se deva procurar.

     Acredito que, ter vontade de voar, conhecer o equipamento que se voa e se disciplinar para isso, são fatores necessários para um bom desempenho não só para o piloto como para o passageiro também.

     Vontade de voar - nunca voe sob pressão, nunca voe para impressionar alguém - em qualquer atividade não se pode prescindir da vontade - e voar é uma delas.

     Conhecer o equipamento - costuma-se dizer que na Aviação Militar o piloto de combate deve "vestir" o avião e tornar-se com ele uma unidade. Já na Aviação Comercial acredita-se que a coisa se apresenta mais complexa. Exigindo uma concentração de atitudes didáticas entre avião, tripulação e passageiros para que tudo corra bem.

     Disciplina - segundo o Aurélio - se define por: - regime de ordem imposta ou livremente consentida - fiquemos com a segunda afirmação daquele mestre. Pois em aviação, a disciplina, principalmente a consciente, deve ser encarada como religião. Não basta dizer que somos disciplinados quando voamos - é preciso que mostremos que somos. Obedecendo regras, regulamentos e nunca ultrapassando os limites de estrutura do seu equipamento e de si próprio. Um bom hábito é procurar estar sempre atualizado técnica e culturalmente com a Aviação através de publicações técnicas e revistas de informações aeronáuticas.

     Na conjugação de tudo que se disse acima - entende-se que voar não é uma atividade perigosa, mas sim delicada. Onde todos os cuidados devem ser tomados para uma perfeita celebração de segurança durante qualquer vôo.

     Costumo afirmar que voar é como pintar um quadro. A obra de arte vai depender da virtuosidade e habilidade artística de cada um.

     Na antiga Escola de Aeronáutica no Campo dos Afonsos existia uma frase em uma parede que dizia: Em Aviação só o Perfeito é Aceitável. - portanto logosoficamente falando, todo piloto quando voando deve tender para a perfeição. Àquelas pessoas que se intimidam com a arte de voar como piloto e/ou como passageiro, devem entender que todos nós somos aviadores - voando neste Planeta Terra em torno de si mesmo a uma velocidade de 500m por segundo e em torno do Astro-Rei a uma velocidade de 30km por segundo. Vale a pena lembrar...

Wylton Silva

 

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