A mania de voar

     Pensamentos que tocam fundo quando se tira o pé da terra...

     Voar, ora voar... é uma sensação indescritível. Sentar naquela cadeira pendurada num punhado de cordinhas, todas presas num pedaço de pano nem parece tão maluco assim, mas ter a habilidade de conduzir tudo isto por um tempão, percorrendo as vezes muitos quilômetros, sem motor para empurrar o "trem" é muito mais do que algo super legal, é a realização de um sonho.

     Um sonho onde você se transforma em mestre absoluto.

     Um sonho que você controla.

     Um sonho onde somente a sua sensibilidade e habilidade governam.

     O homem quer voar a muito tempo. Sempre tentou dar um jeito de construir máquinas voadoras. Dumont voava no início do século, os irmãos Wright também, Julio Verne retratava em suas obras as mais incríveis maneiras de voar. A gente pulava do muro com um guarda-chuva aberto, pulava do telhado com uma capa nas costas e admirava o Super Homem, não pela sua força, mas pela sua capacidade de voar. Quem não se lembra de vários outros super heróis que voavam? Capitão Marvel, a Poderosa Isis, o Super Dínamo, e mais um monte. Os que voavam sempre foram os mais queridos e invejados. Leonardo Da Vinci disse uma vez que depois que alguém voa, passa o resto dos seus dias olhando pra cima querendo voltar prá lá...

     O vôo é a fuga, os problemas ficam pequeninos lá embaixo e aqui em cima só tem você e o silêncio... o silêncio do ar acariciando nossa pele... A distância reina absoluta. Uma solidãozinha especial nos fascina neste momento de intimidade absoluta. Não tem nada, absolutamente nada por perto. O chão está a centenas, as vezes milhares de metros de distância... a gente pode gritar, cantar, falar sozinho, falar com Deus...

     A Mitologia Grega já nos apresentava Ícaro que fugia com seu pai do labirinto. O caminho era o vôo. Daquela maneira ninguém poderia alcançá-los. Daquele modo eles eram soberanos, estavam acima de todos, viam tudo do alto.

     Mas a solidão que eu mencionei acima faz parte de um paradoxo, pois ao mesmo tempo que voamos sozinhos, pousamos com os amigos, e os amigos pousam juntos e falam de vôo, das sensações que sentiram, das conquistas que se fizeram possíveis, daqueles momentos de solidão mágica, uma solidão que serve de combustível para alimentar nosso desejo de confraternização, de dividir com nossos amigos aquilo que sentimos lá em cima. E sempre sentimos coisas diferentes!! A estória não fica repetitiva. Cada vôo é um passo em nossa evolução de pilotos e poder contar e escutar isto das pessoas é realmente muito bom. A solidão do vôo é parceira do convívio do vôo. Uma coisa completa a outra.

     Quando a gente tem um motor para acelerar, a gente passa a depender dele. Quanto mais forte o motor, mais a gente consegue chegar perto do nosso objetivo. Mas quando a gente não tem motor, como no paragliding, dependemos de nós mesmos, assim como na vida. Se a gente erra, a gente desce mais cedo. Se a gente se esforça e se dedica, consegue ir mais longe. Chego a conclusão que o paragliding é um retrato da vida. Quando a gente consegue conquistar um objetivo pelo esforço próprio, por mais simples que ele possa parecer para o seu colega ao lado, sabemos que fomos nós os únicos responsáveis, não foi um motor que nos empurrou. Nessa hora nos sentimos tão realizados, tão felizes que nem dá prá descrever.

Sivuca
Ventomania Escola de Paragliding

 

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