Aeroplano

     Quisera ser um ás para voar bem alto
     Sobre a cidade de meu berço!
     Bem mais alto que os lamentos bronze
     Das catedrais catalépticas;
     Muito rente do azul quase a sumir no céu
     Longe da casaria que diminui
     Longe, bem longe deste chão de asfalto...

     Eu quisera pairar sobre a cidade!...

     O motor cantaria
     No anfiteatro azul apainelado
     A sua roncante sinfonia...
     Oh! voar sem pousar no espaço que se estira
     Meu, só meu;
     Atravessando os ventos assombrados
     Pela minha ousadia de subir
     Até onde só eles atingiram!...

     Girar no alto
     E em rápida descida
     Cair em torvelinhos
     Como ave ferida...

     Dar cambalhotas repentinas
     Loopings fantásticos
     Saltos mortais
     Como um atleta elástico de aço

     O ranger rascante do motor...
     No anfiteatro com painéis de nuvens
     Tambor...

     Se um dia
     Meu corpo escapasse do aeroplano,
     Eu abriria os braços com ardor
     Para o mergulho azul na tarde transparente...
     Como seria semelhante
     A um anjo de corpo desfraldado
     Asas abertas, precipitado
     Sobre a terra distante...

     Riscando o céu na minha queda brusca
     Rápida e precisa,
     Cortando o ar em êxtase no espaço
     Meu corpo cantaria
     Sibilando
     A sinfonia da velocidade

     E eu tombaria
     Entre os braços abertos da cidade...

     Ser aviador para voar bem alto!

Luís Aranha


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