Aeromodelista pilota sonhos


     O supervisor de máquinas industriais aposentado José Américo Matos Dal Bello, de 48 anos, começa a construir sua terceira réplica em miniatura do 14-Bis, a famosa obra de Santos Dumont. O modelo tem de estar pronto até março, quando o primeiro neto de Dall Bello nascer. "Estou fazendo para ele, que, tenho certeza, será apaixonado por aviões", diz o futuro avô, que se dedica ao aeromodelismo há 40 anos.

     A réplica do 14-Bis não voará, ao contrário dos pequenos aviões que Dal Bello constrói em um quarto nos fundos de sua casa, em São Miguel Paulista. "Quando estou lá, esqueço da hora", diz. "Na época de namoro, ele faltou a alguns encontros porque estava envolvido na montagem dos aviões", conta sua mulher, a professora Márcia Dal Bello, de 42 anos. "Não dá para ter ciúmes."

     A paixão pela aviação começou quando ainda era criança, diz Dal Bello, que sonhava em ser piloto. "Minha mãe achava uma loucura e não concordou." O aeromodelismo supriu a vontade. "Tudo dá prazer: projetar, construir, pilotar e até reparar os aviões."

     Dal Bello foi apresentado aos aeromodelos pelo amigo de infância, o técnico industrial Antônio Tomasiunas Filho, de 53 anos. "Não é só uma brincadeira", define Tomasiunas, que já construiu modelos de quase todos os aviões da Embraer. "Aprende-se mecânica, medidas, volume; recomendo até para crianças, porque abre a mente e ajuda em atividades futuras."

     As réplicas seguem escalas e têm todas as características do original. Em sua oficina, Dal Bello constrói aviões em escalas e outros modelos. "No ano passado fiz 36 aviões." O tempo de construção varia entre 15 e 20 dias, com 12 horas de trabalho diário.

     O desenvolvimento tecnológico impulsionou o aeromodelismo. "Antes era tudo artesanal", lembra Tomasiunas. Nos anos 70, o transistor substituiu a válvula e resultou em uma evolução importante do rádio de controle dos modelos. "Os rádios já pesaram mais de 1 quilo, mas hoje há peças de 200 gramas", diz Dal Bello.

     O preço dos aviões varia de acordo com o modelo. "Há bons kits, vendidos em média por US$ 500,00", afirma Dal Bello, que cobra metade do valor do kit para fazer um modelo. "Há alguns que não têm preço", revela Tomasiunas, referindo-se à produção de modelos patrocinada por empresas aéreas. "São equipados com turbinas e motor a jato."

     Os aeromodelos podem atingir 300 metros de altura. Os maiores pesam de 6 a 8 quilos e têm 3 metros de envergadura. "Primeiro é preciso montar a fuselagem, depois a asa, o leme e o profundor, responsável pelos movimentos de subida e descida", explica Dal Bello. Se algo sai errado, o que só vai ser percebido no primeiro vôo, é preciso desmontar tudo.

     Dal Bello e Tomasiunas costumam "voar" em uma área descampada em Cumbica. "Há um projeto para uma área no Parque Ecológico do Tietê", comenta Dal Bello.

     A prática requer cuidados. "Não pode ser perto de casas e fios de alta tensão." Por meio de associações, os praticantes recebem permissão da Aeronáutica e têm de pagar seguro para cobrir acidentes.

     "Voar não é difícil", assegura o técnico em eletrônica Wilson Marabine, de 42 anos, que dá aulas para interessados. Em poucas horas, segundo ele, é possível manter o avião no ar. "Mais difícil é pousar."

     O pouso perfeito é, para Dal Bello, uma grande satisfação. Mas alegria maior ele terá mesmo se o primeiro neto gostar do hobby, o que não aconteceu com os três filhos. "Aeromodelista nasce apaixonado por aviões."



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